Seguidores

domingo, 29 de setembro de 2019

Uma conversa sobre a passagem ao ato...



Para começarmos, faremos uma breve distinção entre acting out e passagem ao ato.
Em ambos os casos, o sujeito vai construindo uma cena ou pelos menos atua no marco de uma cena.
Todavia, no acting out identificamos uma mostração, uma mostração desafiante frente ao Outro desfalecente, o Outro que falha. Falha em quê? Falha como suporte, como leitor e interpretante do desejo do sujeito. Este, por sua vez, ao não conseguir fazer-se reconhecer no seu desejo, mostra-o mediante uma ação, e o faz, porque falha a articulação significante e o objeto resto dessa articulação é mostrado numa cena no real.
Lembremos da crítica de Lacan em “A Direção do Tratamento...” do caso apresentado por Ernest Kris que é conhecido como “O homem dos miolos frescos”, o paciente sai da sessão e vai “comer miolos frescos”.
É importante essa diferença entre o acting out e a passagem ao ato, porque o sujeito não se identifica com o objeto, mostra-o numa ação através de uma cena no real. Há uma falha na estruturação fantasmática, uma falha na articulação significante e isso é o que se manifesta na mostração. Esse será o nosso ponto de partida.
A passagem ao ato também é uma cena, relatada ou consumada; e neste momento eu quero esclarecer outra coisa. Se, o acting out é endereçado ao Outro, portanto reservado à estrutura neurótica, a passagem ao ato não. A passagem ao ato é verificável em todas as estruturas psicopatológicas.
Tal como no acting out, a passagem ao ato é uma cena, mas não é uma cena que surpreende, talvez na esquizofrenia algumas vezes, mas nem sempre. Ela chega ao analista de forma direta ou através de relatos e vai deixando pistas.
A passagem ao ato é anunciada, na neurose geralmente é anunciada, e é uma das coisas que também a diferencia do acting out onde o Outro é tomado pela surpresa da mostração.
Na passagem ao ato o sujeito se encontra com alguma coisa que pouco a pouco vai crescendo, numa velocidade variável em termos vitais. O sujeito, pouco a pouco, começa a se revelar em posições de identificação ao objeto dejeto.
Por essa via, a cena da passagem ao ato vai tomando cada vez mais e mais as instâncias da vida do sujeito. É uma cena que se desenrola e se configura num crescendo até a cessão brusca, o gatilho que é o ponto fatal do último ato, ponto de ruptura da cena.
Neste ponto de ruptura, a configuração da cena da passagem ao ato que foi se tornando progressiva já é absoluta, é total, e ao sujeito não resta outra opção senão rompê-la, rompe-a se identificando absolutamente a um dos elementos dessa cena, fazendo-a cessar. Contrário ao que se desenrola no acting out, onde o Outro é desfalecente e falho, aqui o Outro vai crescendo, se tornando absoluto.
Em geral, todos nós temos uma instancia ideal com a qual tratamos de nos identificar.
Na passagem ao ato esse ideal vai migrando para o lado do Outro e o sujeito vai se identificando com o objeto dejeto , perde seu suporte narcísico.
Isso vai chegando na clínica uma, duas vezes ...
É bom ficar atento, porque na passagem ao ato o sujeito se identifica com o objeto e sai bruscamente de cena.
(Adilson Shiva)

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Ilhas de distância...


Às vezes um poema é um dialeto de palavras
sobrevivendo a um pesadelo ...
Da mais antiga solidão.

Islas de distancia…

A veces un poema es un dialecto de palabras
sobreviviendo una pesadilla…
De la más temprana soledad.

(Adilson Shiva)

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Daquilo que sei...




Minhas lembranças habitam uma ilha,
Meus sonhos, terra firme.
O que resta de mim cai em letras,
versos, que se transformam em poesia...

As minhas paisagens são de estranhamento e espanto,
Cheias de mar e de tempo, de sopro, de vida e de vento...
Uma complexidade que transita entre o doce e o amargo,
Criando o novo, onde nada existia...

Meus devaneios me devolvem ao mundo...
E, penso no nada do tempo, quando recorro
Às tuas palavras, porque o coração
Não reconhece distâncias, se o que nos separa
É apenas “água”.

Por lo que sé...

Mis recuerdos habitan una isla
Mis sueños, tierra firme.
Lo que queda de mí cae en letras
Versos que se transforman en poesía...

Mis paisajes son de extrañeza y asombro,
Llenos de mar y tiempo, de aliento, de vida y de viento...
Una complejidad que va entre lo dulce y lo amargo,
Creando lo nuevo donde nada existía...

Mis devaneos me traen de vuelta al mundo...
Y, pienso en la nada del tiempo, cuando recurro
a tus palabras,
Porque el corazón no reconoce distancias,
Si lo que nos separa es solo "agua".

(Adilson Shiva)