"O homem é o Sujeito, o Absoluto; ela é o Outro"(Simone de Beauvoir, O segundo Sexo , Difusão Européia do livro 4a. ed - 1970 p.10)
Esse outro é um Outro desde uma perspectiva filosofica levinasiana, porque desde Sócrates que se coloca a questão “o que é o homem?” , pergunta que atravessa toda a antropologia filosofica e que parece anular a
diferença(homem/mulher ) postulando uma unidade - a do ser humano.
Assim, o uso do termo “homem” para designar a totalidade dos humanos não perturbou a maior parte das pessoas. Também não perturbou os filósofos que até meados do século XX a usaram sem quaisquer problemas de consciência. Só que esta homogeneidade de designação não é inocente. No que diz respeito à filosofia ela significa um modelo que se impõe, um modelo masculino pois foi pensado por homens e teve os homens como destinatários. Face a tal modelo a mulher aparece como desviante, ou numa hipótese mais moderada como diferente ou como “outro”.
Esta comunicação debruça-se sobre o modo como os filósofos entenderam a mulher e o feminino, pretendendo mostrar que conceber a mulher como “o outro” não é necessariamente uma teoria ética e politicamente incorreta. Só o é quando se reveste de uma conotação pejorativa em que o outro tende a ser secundarizado, ou discriminado ou simplesmente anulado. Esta atitude se manteve durante muito tempo na tradição filosófica com o contributo ou pelo menos com a aquiescência dos filósofos.
Mas , a Simone de Beauvoir, que era filosofa , contesta isso dizendo:
Essa idéia foi expressa em sua forma mais explícita por E.Levinas em seu ensaio sobre Le Temps et l'Autre. Assim se exprime êle: "Não haveria uma situação em que a alteridade definiria um ser de maneira positiva, como essência? Qual é a alteridade que não entra pura e simplesmente na oposição das duas espécies do mesmo gênero? Penso que o contrário absolutamente contrário, cuja contrariedade não é em nada afetada pela relação que se pode estabelecer entre si e seu correlativo, a contrariedade que permite ao termo permanecer absolutamente outro, é o feminino.
O sexo não é uma diferença específica qualquer. . . A diferença dos sexos não é tampouco uma
contradição. . . Não é também a dualidade de dois termos complementares, porque esses dois termos complementares supõem um todo preexistente... A alteridade realiza-se nc feminino. Termo do mesmo quilate mas de sentido oposto à consciência".
Suponho que Levinas não esquece que a mulher é igualmente consciência para si. Mas é impressionante que adote deliberadamente um ponto de vista de homem sem assinalar a reciprocidade do sujeito e do objeto. Quando escreve que a mulher é mistério, subentende que é mistério para o homem. De modo que essa descrição que se apresenta com intenção objetiva é, na realidade, uma afirmação do privilégio masculino.O sexo não é uma diferença específica qualquer. . . A diferença dos sexos não é tampouco uma contradição. . . Não é também a dualidade de dois termos complementares, porque esses dois termos complementares supõem um todo preexistente... A alteridade realiza-se no feminino. Termo do mesmo quilate mas de sentido oposto à consciência".