Um poema metafísico
Sou um passageiro do tempo
Sou um Ente do Ser
Que se mostra e desaparece
Só posso ser sendo
Meu destino ninguém tece
Acontece!
Sou um Ente do ser
Suspenso no nada
Sou minha consciência
Primordial, inacabada
Sou o princípio e serei fim
De uma consciência alienada
Sou a vida passando em mim
Sem eu poder fazer nada
Sou no tempo um ser do Ser
Sou do sul, sou do norte.
Sou um ser ai no mundo
Para a vida e para a morte
Passageiro do tempo
Sou esse momento...
Esse segundo...
(Adilson)
Eu queria escrever um poema...
Eu queria escrever um poema à vida.
À vida sem ilusões, sobre o Ser e o Sentir.
Seriam as ilusões sonhos?
É possível sonhar sem existir?
Eu queria escrever um poema à alma.
À alma e sua essência.
Se a vida é passageira,
O que está para além de sua existência?
Eu queria escrever um poema
Leve, tranqüilo e sereno;
Que transformasse em si a vida
Numa vida mais amena.
Eu queria escrever um poema
Que a alma se transformasse
Dia a dia após dia
Numa alma menos pequena.
Eu queria escrever um poema...
(Adilson)
Partiste no açoite do vento ....
Saudade, aflição, agrura,
Que vem no uivo do vento
Canção triste, triste amargura.
Não é só o uivo é também o lamento;
Tela Branca, de branca alvura
Qual regato que corre no solo
A razão cede à loucura
Pedindo aconchego ou colo
Há um porque dessa ruptura
Fugiste no escuro da noite
Nem olhaste para trás
Não deixaste pegadas ou rastro
Há de ti apenas a imagem
Que o tempo Não desfaz
Partiste no açoite do vento ....
(Adilson)
Confesso também que vivi
Era criança e brincava
Atirava pedras no lago
Imensidão de remanso sem fim
As ondas que se formavam
Era o lago sorrindo pra mim
Era criança e cresci
Atiraram pedras em mim
As pedras, deixei pelo caminho.
Neruda , confesso também que vivi...
(Adilson)
Poesia?
Para que serve a poesia?
Para falar de flores,
Do amor e suas dores?
Para falar do Céu.
do universo de estrelas?
Como é seu nascimento?
Bastam folha e papel?
Ou nasce do meu pranto,
Das lagrimas que limpo e seco?
A quem ela pertence ,
Se a recito em alta voz?
O eco traz-me-a de volta
E se ela me pertencia
Agora não pertence mais.
Corre agora para o mundo,
Como o rio à sua foz
Já não sou mais só eu
Sou o eco e minha voz.
(Adilson)
EVANESCE
Tuas artimanhas,
palavras vãs,
palavras vazias,
discussões banais,
pintam um veleiro
afastando-se do cais.
Tuas palavras frias,
meras armadilhas,
tornam-me distante,
mais e mais.
Tu não te vês,
Mas é assim...
Tu te tornas uma ilha,
A milhas
E milhas de mim.
(Adilson)
Quando ...
Quando...
Os olhos são janelas
Por onde não se pode sair
Quando...
Os lábios outrora risonhos
Não podem mais sorrir
Quando ...
Versos tristonhos
Teimam em existir
quando...
Passos cansados lentos
caminham para dormir
Quando....
Lágrimas me seca o vento
Cujo pranto ninguém pode ouvir
Quando tudo terminar
A chuva cair
No entanto lavará o pranto , tanto
Que o ausente canto
Faz nova canção surgir
quando...
(Adilson)
Saudades...
Abraça-me agora
Não digas nada...
Tanto faz...
Se és mar aberto,
Baia ou enseada.
Se és porto de partida ou chegada.
Se és desatino,
Caminho ou caminhada...
Nau que se afasta
Ou se aproxima do cais.
Se és ausência,
Ou reencontro,
Mensagens
Que
Tanto fez , tanto faz
Abraça-me agora.
Abraça-me apenas...
Tanto...tanto...tanto...
E não digas nada...
Tanto faz...
(Adilson)
Fugaz
Não sei se vou,
Não sei se fico,
Não sei se divido
Ou se multiplico.
Dois passos a frente
Andando
Dê-me
Tenho dançado sozinho!
Vida intricada,
De estranhas tranças.
Por onde começa
Ou termina o caminho?
Escolhas tantas,
Que o olhar se perde.
Coisas mundanas e santas.
Basta ler o jornal,
Monitor de vídeo,
Bola de cristal.
Numinoso destino
Frugal e passageiro
Onde vai parar?
No gesto...
No corpo...
No silêncio
Que silencia
A palavra no Ar...
(Adilson)
Psiu!
O silêncio do Nada, do todo,
Ou da imensidão do mar
Que palavra diz o silêncio?
O que é o falar?
Se a linguagem é de escuta
A palavra é a luta,
A rasgadura do silêncio.
O som do silencio é o não dito,
Do que se pretende dizer.
A fala a linguagem limita
Do não saber o que fazer
Quando o coração grita:
Psiu! Silêncio!
(Adilson)
Lembranças
Esse lugar silencioso
Imagens cândidas e velhas
Sombras desbotadas pelo tempo
Lembranças no meu peito de pedra.
Luz que alumia e agora dorme
Ondas que na praia são espumas
Vagas que vazias flutuam
Escondem o sol e trazem brumas
Cercanias de muros brancos
Tapumes verdes de esperança
Crescem heras pelos cantos
Que as vistas não alcançam
Rosto amado de branca tez
Retorno sempre aqui
Onde ouvia sempre um nunca
Agora ouço talvez.
(Adilson)
Traze-me a boa nova...
Traze-me a boa nova
No gesto, na palavra, no sorriso,
Do retiro, desses teus anos de ausência.
Desse voluntário exílio.
Traze-me a boa nova
Anuncia tua insurgência
Contra o tempo acordado que já passou
Mesmo palavras sonolentas
Tenho ouvidos para ouvir
Traze-me a boa nova...
(Adilson)
Caminhos
E assim como Zaratustra falou:
Não tenho mais olhos para ninguém
Não carregarei nenhum peso morto
"Requiescat in pace"
Fantasmas do meu passado
Palavras murmuradas, réquiem
Olhem meu rosto , minha face,
Meus pés cansados de caminhos tortos
A vós , miro com desdém
Não há seguidores
Que possam me seguir
Minhas pegadas estão na areia
Que a onda do mar apagou...
Leio as estrelas
Tenho o céu por teto
Há muito deixei todo o apego
Carrego somente afeto
pois ,
Não há seguidores
Que possam me seguir
Minhas pegadas estão na areia
Que a onda do mar apagou...
(Adilson)
Janelas
Chuva fina , mansa miúda
Molha a paisagem desses dias de inverno
Entranha-me, não sei como o sinto
O cheiro da chuva e da terra molhada
Tenho os olhos molhados
De saudades , não minto
Olhando o mundo de minha janela.
Os pingos caem e correm
Como soldados de chumbo
Na enxurrada descendo a ladeira
O aroma , o cheiro , as panelas
Fogão à lenha , comida caseira
Fez-se o tempo no já faz tempo
Acomodam-se, ficam, querem pousada
Lembranças que são tão minhas
A garoa toma o dia
Pinta a paisagem de mansinho
Cai a chuva descansada
Como se fora uma chuva miudinha ...
Fogão à lenha , aconchego , ninho
(Adilson)
Caminhos II
Os Caminhos que separam
São os mesmos que unem.
Em rostos que não se reparam,
Nas bocas que não se calam,
Nos aflitos que não dormem.
Nada como antes,
Tudo como agora.
Somos todos retirantes.
Então ...
Sem traçar caminhos vim
(Adilson)
Poema Urbano
Moço...
Não cave o poço,
O poço é fundo,
Engana o moço.
Na freguesia
Sobe e desce,
Pó e pedra,
Pintura ,esboço
De Confusão.
Olha a sirene,
Vem o Jornal,
Empurra-empurra
Sem hospital.
Vai lá não.
Placas tortas
Indicam rumos
Sem direção.
Você teimou,
Escorregou
Não levanta mais.
Cadê o chão
A vida é osso
Quebra pescoço
Tome um lençol
Cubra seu rosto
Descanse em paz...
(Adilson)